quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A vice-presidente da "Casa do Poeta": Analice Feitosa de Lima





Parece Tatuagem

Meu ser se incorporou à vida tua
de um modo tão incrível, tão seguro,
que eu tenho de deixar, mas continua
em ti minha esperança de futuro.

O meu apego tanto te cultua,
que o expresso em versos, rabiscando o muro.
E uma saudade ao meu redor flutua
enquanto no vazio eu te procuro.

Deixaste em meu viver enorme brecha
que sangra a todo instante e não se fecha,
porque a lembrança ao teu encontro vai.

Eu tento te esquecer mas não tem jeito.
E a tua imagem sufocando o peito,
parece tatuagem que não sai...

Analice Feitosa de Lima

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mudanças na ortografia...

Novas regras ortográficas

HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo".

Fonte: Folha on-line

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Colombina em textos:



Yde Schloenbach Blumenschein


Textos:

Eu
Sou só e sou eu mesma. O que pensem e digam
os demais, nada importa; eu tenho a minha lei.
Que outros a multidão, covardemente, sigam,
pelo caminho oposto, altiva, eu seguirei.
Que, sem brio e vergonha, outros tudo consigam
e que zombem de mim porque nada alcancei;
quanto mais, com seu ódio, o meu nome persigam,
tanto mais orgulhosa em trazê-lo, serei.
As pedradas não fujo e as tormentas aceito;
mas a espinha não curvo em prol de algum proveito,
minha atitude sempre a mesma se revela;
a mim mesma fiel, a minha fé não traio;
e, se em dia fatal ferida pelo raio,
tombar minha bandeira, eu tombarei com ela!

A carne
Exiges. É ciumenta e egoísta. Não admites
qualquer rivalidade, ou que algo te suplante.
És forte e audaz no teu domínio sem limites …
capaz de transformar a vida num instante,
És mísera e brutal. Mas, nada obsta que agites
e açambaques o mundo, e que essa alucinante
e estranha sensação que aos humanos transmites,
tenha, como nenhuma, um halo deslumbrante.
Oh, carne que possuis no teu imo maldito
mais lodo que contém num charco pantanoso,
mais esplendor, também, que os astros do Infinito …
Rugindo de volúpia e de sensualidade,
espalhando na terra apoteoses de gozo,
ó, carne, serás tu a única verdade?


Saudade (Trovas)
A saudade é uma andorinha,
mas uma andorinha estranha:
quando, num peito se aninha,
as outras não acompanha…
*
Saudade – coisa que a gente
não explica nem traduz;
faz do passado, presente,
e traz sombras, sendo luz…
*
Saudade – febre que a gente
sem querer, pode apanhar,
nunca mata de repente,
vai matando, devagar…
*
Saudade – a princípio é pena
que nos deixa uma partida;
depois é dor que condena
a morrer dentro da vida…
*
se é triste sentir saudade,
muita saudade de alguém,
maior infelicidade
é não tê-la de ninguém.

Intimidade

Toda alcova em penumbra. Em desalinho o leito,
onde, nus, o meu corpo e o teu corpo, estirados
na fadiga que vem do gozo satisfeito,
descansam do prazer, felizes, irmanados.
Tendo a minha cabeça encostada ao teu peito,
e, acariciando os meus cabelos desmanchados,
és tão meu…Sou tão tua. Ainda sob o efeito
da louca embriaguez dos momentos passados.
Porém, na tua carne insaciável, ardente,
o desejo reacende, estua…E, de repente,
dos meus seios em flor beijas a rósea ponta…
E se unem outra vez a lúbrica bacante
do meu ser e o teu sexo impávido, possante,
na comunhão sensual das delícias sem conta…

Bibliografia Sobre a Autora: "Colombina"

Yde Schloenbach Blumenschein

Bibliografia Sobre a Autora:

BRAGA, Dulce Salles Cunha. Autores Contemporâneos Brasileiros: depoimentos de uma época. Pref. Ives Gandra da Silva Martins. São Paulo: Editora Giordano, 1996.

CAVALHEIRO, Maria Thereza. Colombiana e sua poesia romântica e erótica. São Paulo: João Scortecci Editor, 1987.

COUTINHO, Afrânio e SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação; Fundação de Assistência ao Estudante, 1990. v.1, p.331.
MELO, Luís Correia de. Dicionário de Autores Paulistas. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954. p.98-99.

MENEZES, Raimundo de. Dicionário Literário Brasileiro. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1978. p.117.

MOURA, Enéas de. Coletânea de Poetas Paulistas. Rio de Janeiro: Minerva, 1951. p.71-73.

SOUZA, Eliezer Leal de. A Mulher na Poesia Brasileira: O Ideal Feminino dos Poetas,Poetisas Brasileiros; Musa Contemporânea. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro, 1918. p.90.

WAENY, Walter. Apresentações Literárias. v.1. Santos, [s.n.], 1963. p.11.

Yde Schloenbach Blumenschein e sua Obra...

Yde Schloenbach Blumenschein

Obra:

14 dVislumbres. Pref. Luís Edmundo. São Paulo: [s.n.], 1908.

Versos em lá menor. São Paulo: São Paulo Editora Ltda, 1930; 2. ed. Empr. Gráf. Dos Tribunais, 1949.

Lampião de gás. São Paulo: Tip. Cupolo, 1937; 2. ed. [s.n.], 1950; 3. ed. Gráfica Canton Ltda, 1961.

Sândalo. São Paulo: [s.n.], 1941; 2. ed. [s.n.], 1952.

Uma cigarra cantou para você. São Paulo: [s.n.], 1946.

Distância: poemas de amor e de renúncia. São Paulo: [s.n.], 1947; 2. ed. Editora Cupolo Ltda, 1953.

Gratidão. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1954.

Para você, meu amor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1955.

Cantares de bem-querer. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.

Manto de arlequim. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1956.

Inverno em flor. São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1959.

Cantigas de luar. São Paulo: Gráfica Canton Ltda, 1960.

Rapsódia rubra. Salvador: SENAI, 1961.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O presidente: Wilson de Oliveira Jasa

“Amada minha”













Em teu corpo sensual tens o perfume,
Da mais sensível flor, rosa de amor;
Mas mesmo nos meus braços tens queixume,
Querendo para ti bem mais calor.

Voas em sonhos pra mim, qual vaga-lume,
Iluminando a noite com fulgor;
És minha doce amada com teu lume,
Que é meu nume em momento abrasador.

Inspiradora musa da poesia,
Que transporta meu ser na fantasia,
Fazendo-me viver o amor-paixão.

És tu, amada minha e companheira,
Minha mulher, e a amiga verdadeira,
Quem aquece minh’alma e coração.

Wilson de Oliveira Jasa é poeta, jornalista e presidente da "Casa do Poeta 'Lampião de Gás' de São Paulo"

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

"Exaltação" por Colombina

"Exaltação"

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante
toda a terra subir a um céu que desconheço.
Olho nos olhos teus. E fica tão distante
o mundo: e todo o fel que ele contem, esqueço.

Sorris... e, contemplando o teu lindo semblante,
o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.
Falas... ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,
num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

Beijas a minha boca. E neste beijo grande
-- como uma flor que ao sol desabrocha e se espande -- ,
todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

Tudo é um sonho, no entanto; o seu beijo... o meu crime.
Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime
somente o meu desejo imenso de ser tua!

Colombina (Yde Schloenbach Blumenschein)

Yde Schloenbach Blumenschein


Yde Schloenbach Blumenschein

Vida:

Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein nasceu na cidade de São Paulo em 26 de maio de 1882, vindo a falecer na madrugada do dia
14 de março de 1963, vítima de um colapso cardíaco. Filha de Otto Schloenbach e de Adelaide Augusta Dorison, Yde fez parte de seus estudos na Alemanha. Poliglota, falava alemão, francês, inglês, espanhol e italiano. Estudou piano e canto. Poeta e cronista, ela começou a escrever aos 13 anos de idade, tendo seus primeiros poemas publicados em A Tribuna, de Santos. Colaborou em revistas e jornais como O Malho, Fon-Fon, Careta e Jornal das Moças, tendo se utilizado muitas vezes dos pseudônimos de Colombina e Paula Brasil.
Casou-se com Hanery Blumenschein com quem teve dois filhos. Mais tarde, desquitou-se, provocando um escândalo. Descrita pelas sobrinhas-netas como uma mulher elegante, esguia e pequena em que sobressaíam os olhos azuis, Yde foi vítima de críticas veementes por parte de amigos e familiares que não aceitavam seu modo independente de ser. Mulher emancipada para sua época, vivia sozinha, fumava, freqüentava meios literários e organizava serões em sua casa.
Sempre cercada de literatos, em 1932, teve a idéia de fundar a Casa do Poeta Lampião de Gás. À princípio funcionando em sua casa, em 7 de novembro de 1948, a casa foi oficialmente criada. No caso, a escolha do nome da casa foi uma homenagem dos intelectuais que a freqüentavam à sua idealizadora –o nome é o título de um de seus livros. Yde foi uma de suas diretoras, tornando-se a responsável pela edição de seu jornal mensal O Fanal.
Quanto à sua poesia, o amor é o leitmotiv que perpassa pela grande maioria de seus versos. No caso das trovas, preponderam versos que tratam do amor de forma mais inocente. Todavia, em outros poemas, a forma como rompe com as convenções burguesas ao falar dos desejos carnais provocou a crítica impiedosa por parte de muitos amigos e familiares. Um processo que eclode com o lançamento de seu último livro, Rapsódia Rubra: Poemas à Carne - livro composto de poemas eróticos.
Para comemorar seu jubileu de poesia, o Clube dos Artistas e Amigos organizou uma festa em 25 de junho de 1955, data em que Yde recebeu uma menção da Assembléia Legislativa de São Paulo, tendo sido mais tarde homenageada com o nome de uma rua – Rua Poética Colombina, no Butantan. Patrona da cadeira número 37 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, ao longo da vida Yde recebeu cognomes como "Cigarra do Planalto" e "Poetisa do Amor".